Educação sem partido: golpes de estado e governos militarizados (1964 e 2016)

Autores

  • Rodrigo Sarruge Molina Universidade Federal do Espírito Santo

DOI:

https://doi.org/10.14244/198271994719

Palavras-chave:

Escola Sem Partido, Ditadura, Golpe de estado.

Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar dois processos conservadores e reacionários na educação brasileira: as propostas educacionais do movimento “Escola Sem Partido” (ESP) – um dos fomentadores do golpe jurídico-parlamentar de 2016 que desembocou no governo militarizado de Bolsonaro – e a educação na ditadura civil-militar que teve sua gênese nos movimentos civis e militares que provocou o golpe antidemocrático de 1964, fomentado pelo complexo IPES/IBAD. Ao contrário da suposta neutralidade advogada nesses movimentos, este estudo revelou as concepções educacionais, ideológicas e políticas de ambos os casos. Assim como ocorreram delações de professores para a repressão nos “anos de chumbo”, hoje presenciamos o movimento ESP, que incentiva a mesma prática de perseguição contra os professores, articulando e fomentando legislações municipais, estaduais e federais que pretende vigiar e punir os profissionais da educação que abordem conteúdos políticos, temas sensíveis ou ideias críticas ao governo e sociedade. A teoria e o método de análise são fundamentados na História Comparativa e no materialismo histórico-dialético, possibilitando a análise desses objetos sem anacronismos. O estudo conclui que existiram diversos interesses políticos e econômicos (nacionais e internacionais) semelhantes nos processos golpistas de 1964 e 2016 que desembocaram em governos militarizados e que na área da educação, ressuscitam práticas antidemocráticas de vigilância contra docentes, enxugamento de conteúdos da filosofia e ciências humanas com o objetivo de conservar as estruturas sociais intactas em contextos de crise econômica e tensão política.

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Biografia do Autor

Rodrigo Sarruge Molina, Universidade Federal do Espírito Santo

Professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo. Realizou pós-doutorado em Educação na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas). É Doutor e Mestre em Educação na área de concentração: Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde especializou-se nas relações entre História, Educação e a Questão Agrária no Brasil. Esteve 17 meses trabalhando no Departamento de História da Università Degli Studi di Torino (UNITO) na Itália. Exerceu em 2016, 2015 e 2009 a função de professor universitário (PED) na disciplina História da Educação na Faculdade de Educação da UNICAMP, onde ainda colabora como pesquisador. Possui licenciatura em História pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), período que exerceu a função de historiador e educador do museu de História das Ciências Agrárias da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Foi professor de Filosofia, Geografia e História na rede pública e privada trabalhando com o ensino fundamental, médio e cursos "pré-vestibular"

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Publicado

15-07-2022

Como Citar

SARRUGE MOLINA, R. . Educação sem partido: golpes de estado e governos militarizados (1964 e 2016). Revista Eletrônica de Educação, [S. l.], v. 16, p. e4719001, 2022. DOI: 10.14244/198271994719. Disponível em: https://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/4719. Acesso em: 24 abr. 2024.

Edição

Seção

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