A ciência do melhoramento racial: considerações históricas sobre a educação eugênica brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14244/198271995348

Palavras-chave:

Educação eugênica, Movimento eugenista, Racismo biológico, Razão instrumental.

Resumo

efinida por Francis Galton (1822-1911) como a “ciência do melhoramento racial”, a eugenia se popularizou entre a influente elite intelectual brasileira nas primeiras décadas da República, vislumbrando o aperfeiçoamento biológico-racial da população por meio do combate às “ameaças degenerativas” representadas por negros, mestiços, deficientes físicos e mentais. Considerando esse contexto histórico e tomando como aporte teórico-metodológico uma pesquisa documental amparada pela crítica da razão instrumental, o artigo analisa a produção intelectual dos diretores do periódico Boletim de Eugenia (1929-1933): Renato Kehl, Octavio Domingues e Salvador de Toledo Piza Jr. Investiga-se os fundamentos político-ideológicos da educação eugênica no Brasil e seu papel na difusão do racismo biológico entre a elite intelectual do país nas décadas de 1920 e 1930. Conclui-se que a concepção de educação desses autores ultrapassa o sentido de escolarização e se alinha a um projeto intelectual mais amplo que vislumbrava a vulgarização da ciência do melhoramento racial no Brasil.

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Biografia do Autor

Guilherme Prado Roitberg, Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

Doutorando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Possui graduação em História pela Universidade Estadual Paulista, licenciatura em Pedagogia e especialização em Filosofia. Membro do Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Educação da Universidade Federal de São Carlos. Possui experiência na área de Educação, com ênfase em História e Filosofia da Educação e História e Filosofia da Ciência, desenvolvendo pesquisas sobre eugenia, educação eugênica, teorias raciais, racismo biológico, autoritarismo, formação e teoria crítica da sociedade.

Melline Ortega Faggion, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestra em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Docente do curso de psicologia. Membra do Grupo de Estudos sobre o Higienismo e o Eugenismo (GEPHE) e da Sociedade Brasileira de História da Psicologia (SBHP). Dedica-se à temática de fundamentos históricos e epistemológicos da psicologia, história da psicologia no Brasil, eugenia e higienismo.

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Publicado

22-12-2021

Como Citar

PRADO ROITBERG, G. .; ORTEGA FAGGION, M. . A ciência do melhoramento racial: considerações históricas sobre a educação eugênica brasileira. Revista Eletrônica de Educação, [S. l.], v. 15, p. e5348076, 2021. DOI: 10.14244/198271995348. Disponível em: https://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/5348. Acesso em: 26 abr. 2024.

Edição

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